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Com as mães é diferente: o poder de mães na luta contra a homofobia

Adriana Moreno é mãe do Pedro e ativista. Coordenadora do “Mães Pela Diversidade”, contou ao Moveh como promove a transformação na vida de pais e mães de filhos LGBTQIA+.

Agressões, violência sexual e cárcere foram algumas das coisas que Adriana Moreno, 47, viveu no antigo relacionamento. Como se não bastasse todo o sofrimento, o ex-companheiro ainda a distanciou da família e, principalmente, do filho. No final de 2014, ela sofreu um AVC. Já recuperada, descobriu que o ex-companheiro tinha criado uma dívida em nome do filho e esse foi o estopim para “Dri”, como prefere ser chamada, pedir o divórcio. Os anos de “nuvem preta”, como ela se refere aos anos casada com o ex-companheiro, acabaram. Dri se reaproximou do filho, pediu perdão pelos anos distantes e passou um tempo na Argentina com ele. Conheceu Luiz, o atual marido, e procurou uma rede de apoio. Foi aí que ela encontrou o “Mães Pela Diversidade”, ONG de que reúne mães e pais de crianças, adolescentes e adultos LGBTQIA+. Convidada por uma das mães, foi na sua primeira Parada LGBT. Gritou por ela, pelo filho e pelos direitos de  todos. Vestiu a camisa da ONG e se enrolou numa bandeira símbolo da luta LGBTQIA+. E foi assim que, ao lado do marido e de Marcelo Tás, saiu na capa de mais de 350 jornais ao redor do mundo cantando “sai, sai da frente porque com as mães é diferente”. 

A Dri contou sua história completa no Histórias de Ter.a.Pia e, lá, você pode escutá-la contando tudo o que viveu. Em conversa ao Moveh, a atual coordenadora do Mães Pela Diversidade contou um pouco do que sente no corpo, na mente e no espírito desde que mudou a vida completamente. O que sente quando canta o que muitas mães, silenciadas, gostariam de cantar pelos filhos. Como, em conjunto com outras mães, faz a diferença na vida do filho e no mundo. 

M: Quando e porque você procurou o Mães pela Diversidade?

A: Eu conheci o Mães no final de 2018. Apesar de ter resolvido tudo o que eu passei, eu sentia que algo me faltava. Eu não entendia o que me faltava e conhecia pouco sobre cada sigla. Quando descobri o grupo, comecei a mandar mensagens e nunca conseguia falar com elas. Um dia, entrei em uma postagem e comentei, quase implorando para elas me notarem, como quem diz “me ajudem”. E aí a Arlete, uma das integrantes que é psicóloga, me procurou para entender o que estava acontecendo. A gente foi conversando e ela me convidou para ir na Parada LGBT. Eu falei com meu marido e ele falou: “vamos”. Eu comprei camisetas, uma bandeira e fomos nos reunir com as mães. Era a minha primeira Parada, eu não sabia muito bem o que ia acontecer, e foi muito emocionante. São as mães que abrem a Parada, logo depois do primeiro carro. Quando a gente saiu de uma rua e todas elas começaram a gritar “Sai, sai da frente que com as mães é diferente”. É uma emoção que me fez ficar toda arrepiada, da ponta do dedão até o último fio de cabelo. Aquele grito sem música, mas com todo mundo gritando junto. Eu quase morri de tanto gritar. 

M:O que você sentiu quando estava ali, abrindo a Parada LGBT?

A: É uma emoção muito grande porque você vê vários corações aflitos. De outras mães, também. Porque eu não sei o que se passava dentro delas, cada uma ali tem uma história. Assim como eu tenho a minha. É uma coisa muito surreal. Ficam várias pessoas ali implorando por um abraço, pedindo por um abraço de mãe. Ali, para mim, todos eram filhos. Tinham jovens, pessoas mais velhas, tudo. Contando as próprias histórias, dizendo que nunca puderam abraçar as próprias mães. É uma energia surreal, um misto de grandes alegrias e grandes tristezas. Ali, eu vi o poder de transformação de uma mãe na vida de um filho LGBT. Eu estava ali e eu sentia que eu não estava dando o grito só para o meu filho, mas o grito daqueles filhos que foram silenciados para sempre, daquelas mães que foram silenciadas. Eu estava ali gritando pelo meu filho e por todos. E sentia que quem estava me libertando era eu. Eu, ali, explodi o armário. 

M: O que mudou na sua vida desde que você entrou para o Mães?

A: Muita coisa. Eu precisava justamente disso: o abraço de uma outra mãe. De saber que existiam histórias parecidas com a minha, histórias piores. E que essa dor, quando compartilhada, não se torna amena, mas se torna mais suave. Você compreende muita coisa na sua vida. Eu compreendi que tudo o que eu passei e fiz meu filho passar não era culpa minha, era um processo que eu vivia e que não tinha muito o que eu fazer. E a melhor forma que eu encontrei de proteger meu filho, naquele momento, era continuar naquele relacionamento abusivo. Só quem está vivendo sabe o que acontece. E, no Mães, eu pude compartilhar isso. E aquela nuvem preta que ficava em cima de mim, se dissipou. Ela está lá ainda, todo mundo tem uma luz e sua sombra.  Ela está lá para ser administrada, mas não está sendo mais nutrida. E eu percebi que, compartilhando minha história, eu estou ajudando outras mães e outros filhos. É um amor genuíno, de todo mundo se ajudar.

M: O que o Mães te trouxe? 

A: O respeito. E, também, de saber que eu tenho as minhas próprias limitações. Mãe é um ser humano também, ela também erra. E ela não pode ser julgada por isso. O respeito entre uma mãe e um filho e entre duas mães é a lição mais valiosa que a gente tem. O acolhimento, você respeitar a outra alma humana que está na sua frente, acolhê-la e abraçá-la sem julgamentos, é amor.

M: Como o Mães muda o mundo? 

A: O papel do Mães é acolher mães e pais. É desconstruir o pensamento de “onde foi que eu errei?”, “por que Deus fez isso comigo?”. Eu falo porque eu já pensei assim. Então, o nosso papel de mudança no mundo é acolher esses pais e mães para mostrar que o amor não muda, independente da orientação sexual do filho. 

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