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Dani Abras: o amor pelas baleias em sete respostas

Tente fazer um exercício: pense no animal pelo qual você era fascinado na infância. Aquele que era o seu brinquedo favorito, o personagem do desenho que você mais assistia ou aquele animal que você sonhava em ver de perto. Certamente, poucos pensarão em gatos ou cachorros. Tubarões, jacarés e dinossauros serão lembrados com uma certa frequência. Girafas, hipopótamos e elefantes também podem despertar curiosidades. Outros, menos exigentes, pensarão em cavalos e nos famosos “animais da fazenda”, mais presentes no cotidiano e figurinha carimbada das músicas infantis. Mas, tem gente que vai mais longe. Daniela Abras, bióloga marinha e líder de expedição na Antártica, não pensava em nenhum deles. O fascínio de Dani era pelo mar. Mais especificamente, pelas baleias. E a paixão de infância virou profissão. Hoje em dia, Dani afirma: “sou paga para falar sobre baleias, que é a coisa que eu mais amo fazer.”

 Para entender sobre a relação de Dani com a natureza, com o mar e com as baleias, o Moveh conversou com a bióloga sobre suas paixões de infância, sua trajetória e até seus perrengues em alto mar. 

M: Quem é você? 

D: Sou Daniela Abras, atualmente sou guia de expedição em navios de turismo. Sou bióloga marinha, mestre em oceanografia. Também sou guia de observação de baleias de navios menores a bordo e sou pesquisadora autônoma. 

M: Qual sua relação com a natureza?

D: A minha vida é relacionada à natureza. É o ar que eu respiro. Nesta pandemia, a coisa mais difícil para mim foi ficar longe do mar, fui impossibilitada de trabalhar durante esse tempo. A natureza é minha vida. Eu sempre brinco: quando eu tô longe do mar, eu me sinto como uma baleia encalhada. 

M: Por que o mar?

D: Eu decidi ser bióloga marinha quando eu tinha 8 anos de idade. Foi uma decisão que eu tomei muito criança. Eu me apaixonei pelas baleias e a vida inteira quis trabalhar com elas. Era uma certeza durante toda a minha infância e adolescência. 

M: Por que baleias? 

D: Eu não sei. Eu decidi ser bióloga marinha quando eu tinha 8 anos de idade. Foi uma decisão que eu tomei muito criança. Eu fiz um trabalho na escola que era comparar o tamanho das baleias com o dos elefantes. Eu achei aquela informação incrível e comecei a pesquisar tudo o que eu podia sobre baleias. Eu comecei a ficar viciada em baleias, não sei porque. Para mim, é uma coisa que pertence à minha vida desde que eu me conheço por gente.

M: Depois que você descobriu esse amor inexplicável pelas baleias, como foi a trajetória de desvendar o universo desses animais?

D: Eu comecei a ler tudo o que eu tinha sobre baleia. Era na enciclopédia, não tinha internet naquela época. Eu não tinha TV a cabo em casa, então eu tinha que me contentar com as poucas fontes que eu tinha, que eram algumas revistas, como a “Geográfica do Brasil”, que era como a National Geographic brasileira. Era isso e biblioteca. Eu lia tudo que eu conseguia, via foto, tinha pôster na parede. Mas era aquilo. Fiquei viciada, mas ainda não sei o porquê. Eu sou de Belo Horizonte, então eu sou de longe do mar. O mar não é algo natural da minha vida. Ir para a praia era algo que eu fazia uma vez por ano. Era uma coisa tão distante da minha realidade que teve momentos na minha vida em que eu desacreditei que, um dia, eu iria trabalhar com isso. Muita gente me fez desacreditar nisso. Mas eu era apaixonada.

M: Você é bióloga marinha, mas também trabalha como líder de expedição. Como foi a sua trajetória até aqui? 

D: Durante a graduação, eu comecei a estudar as baleias e os cetáceos, e comecei a fazer vários estágios. Nessa, me tornei pesquisadora do Instituto Baleia Jubarte. Mas nunca pensei em ser guia. Nunca pensei em liderar expedição, em trabalhar com turismo ou trabalhar com pessoas. Isso era a última coisa que eu imaginava, só que as coisas foram me levando. Foi uma escolha que a vida fez para mim. Eu me vi como guia de forma inesperada e acabei mudando de vida completamente porque eu achava que, desta forma, eu conectava muito mais as pessoas com as baleias do que estando dentro de uma sala de pesquisa. Tem gente que nasce para isso, mas eu descobri que a minha vocação é falar sobre baleia. Eu sempre brinco que eu sou paga para falar de baleia, que é a coisa que eu mais gosto de fazer. Eu adoro falar com as pessoas, principalmente leigas. A minha missão maior é fazer com que as pessoas se apaixonem pelas baleias da mesma forma que eu me apaixonei por elas quando também era leiga. 

M:Trabalhar com esses animais e viajar para os lugares que você lidera as expedições não deve ser uma missão fácil. Você já passou algum perrengue? 

D: Perrengue, mesmo, com risco de morte, eu não tive. Sempre foi o contrário. Eu falo: “nossa, a minha vida é muito tranquila, parece até mentira”. Quando o tempo tá ruim, eu estou sempre em casa. Eu volto para o mar quando o tempo está bom. Mas, na Antártica, já tive situações de pegar ondas de dez metros no navio. E a situação mais difícil que eu passei foi uma vez que eu estava pilotando um barco com turistas e uma neblina fechou na minha frente. Eu fiquei sem enxergar nada, não sabia para que lado eu tinha que ir e a bateria do meu GSP tinha acabado. Aí eu falei “ah, que legal, meu GPS acabou a bateria e eu estou com turista, então eu tenho que fingir que tá tudo bem. E tenho que achar o caminho de volta”. Aí eu liguei para a ponte, no navio, expliquei a situação. Eles me guiaram e depois de uns 15 minutos eu voltei.

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