Bia, Letícia e Fred percorrem o Brasil dentro de uma motorhome apelidada de “Lisbela”. Entre perrengues e paisagens maravilhosas, o importante é que os três estão sempre juntos.
Em 2010, a ideia do casal Letícia e Fred era tirar um ano sabático, dar a volta ao mundo e, depois, voltar à vida normal. Mas, ao longo da viagem, as coisas mudaram: “O plano era parar um tempo para viajar e vivenciar novas experiências, mas voltar no final do ano e retornar para a segurança que deixamos de lado. Foi uma experiência transformadora, mas que nunca mais voltamos a ser como éramos antes”, conta Letícia. “Quando a gente voltou, a gente sentiu uma vontade de ter mais equilíbrio na vida, de ter tempo para cuidar da saúde física e mental, desenvolver novas habilidades, ter um novo hobby. E também de viajar, conhecer novos lugares e não passar o ano inteiro esperando as férias”, completa.
De volta à vida antiga, o casal entendeu que as prioridades haviam mudado: “Quando a gente se preparou para a volta ao mundo, nós economizamos e montamos um modelo em que a gente conseguiu otimizar muita grana. A viagem foi de baixo custo e, quando voltamos, mantemos esse modelo de vida”, explica Letícia. “A gente sabia que aquela vida no escritório e no mercado corporativo tinha um tempo contado, mas não sabia quanto tempo e nem o que a gente faria depois. No fim, entre a nossa volta da volta ao mundo e a vida nômade, se passaram 7 anos. Durante esse tempo, a gente ficou economizando”.
O planejamento financeiro permitiu que o casal arriscasse mais nos próximos planos. A ideia, então, era viajar o mundo alugando casas de aplicativo. Seja para passar uma semana ou um mês, Letícia e Fred voltariam para a vida na estrada, mas desta vez por mais tempo que no ano sabático. No meio do caminho, entretanto, a família ganhou mais uma integrante. “Eu engravidei da Bia, o que já era um objetivo nosso, mas que mudou um pouco a configuração da viagem”, explica Letícia.
O novo plano era viajar quando Bia completasse um ano e meio, idade em que o bebê já tomou todas as vacinas necessárias para viajar para determinados países. Mas, a rotina de trabalho intenso e as longas horas da filha da creche foram um ponto decisivo para que o casal tomasse a decisão de uma vez por todas: “Quando ela nasceu, esse plano ganhou uma urgência. Ela ficava cerca de 10 horas na creche e a gente começou a perceber que não fazia mais sentido esperar”. Incomodados com o tempo que ficavam longe da filha, Letícia e Fred perceberam uma urgência no sonho antigo.
“A gente tava perdendo aquele momento que a criança muda tanto. A gente queria acompanhar ela crescer de perto”, explica Letícia. “A gente planejou e, em menos de um ano, a gente ‘caiu no mundo’. Mas, como ela tinha menos de 1 ano, precisávamos ficar no Brasil. Nós viajamos para algum lugares dentro do país, fomos para a Argentina e pretendemos ir para a Europa, mas foi aí que deu a pandemia e a gente teve que cancelar os planos de sair do país”, completa.
A compra de um motorhome
Um mês aqui, uma semana lá e alguns dias em outro lugar. Chegar, desfazer a mala e refazer poucos dias depois. Essa é a vida de quem escolhe viver viajando e alugando casa de aplicativo. Seja para ficar um mês ou uma semana, toda chegada requer uma “ambientação” no novo lugar. No caso de Letícia e Fred, ainda tinha um agravante: uma criança de um ano de idade. Cansados desse estilo de vida, a solução do casal foi não ter que pingar de casa em casa. E foi aí que decidiram, então, estar sempre acompanhados da própria casa.
“Antes, a gente viajava no modelo Airbnb e tinha a desvantagem do arruma e desarruma a mala sempre. Agora, a gente leva a casa nas costas, o que é muito gostoso”, explica Letícia. Longe de ser um mar de rosas, viajar num motorhome também tem suas desvantagens. As longas distâncias que antes eram percorridas de avião, hoje, são todas feitas na estrada, o que limita o roteiro da família. “A gente perdeu a flexibilidade porque a gente tem que percorrer os quilômetros para mudar o destino, sem contar que evitamos fazer longos deslocamentos com a Bia. Por isso, a gente acaba rodando as regiões”.