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Olhos no caminho

O grupo, criado por Fábio Nazareth, pratica o “Cicloturismo Contemplativo” e propõe que os ciclistas foquem mais no trajeto do que na linha de chegada

Contemplar a vista, parar para fotografar e conversar com as pessoas que cruzam o seu caminho. Pedir água na casa de um estranho, almoçar com uma família desconhecida e seguir viagem com um pacote de brownies caseiros. Essas são só algumas das experiências vividas por quem pratica o “Cicloturismo Contemplativo”. O termo, desconhecido por muitos, diz respeito à filosofia do Slow Biking e põe em prática as ideias de contemplatividade. O Moveh conversou com o idealizador do projeto “Pedalentos”, o artista plástico Fábio Nazareth, para entender um pouco mais dessa outra visão sobre o ciclismo. 

Mais tempo, mais histórias

Em 2012, depois de uma viagem para Santa Catarina com mais de 40 pessoas em que percebeu que era “o mais lento da turma”, o artista plástico decidiu criar um grupo de pessoas que se importam mais com o caminho do que com a chegada. O objetivo é chegar aos mesmos lugares, mas com uma enorme diferença: voltar os olhares para a beleza do trajeto. “Eu criei o pedalentos porque eu comecei a pedalar e a participar de grupos que eram muito competitivos. Eram pessoas que tinham metas de chegar rápido, vencer obstáculos e eu não tinha esse objetivo. Eu queria pedalar devagar, parar para fotografar, comer com calma, falar com as pessoas”, explica Nazareth. 

Mesmo levando mais tempo, o artista plástico não esconde que suas pedaladas eram muito mais ricas do que as dos companheiros que focavam  apenas na velocidade. “Eu era o mais lento da turma, mas quando chegava no final do dia, eu era o que mais tinha curtido a viagem”, brinca o idealizador. “Eu tinha muito mais história para contar porque eu tinha parado para tomar um sorvete, para nadar no rio e conversar com a pessoa que tinha me vendido a comida caseira”.

Na viagem que deu origem ao projeto, o artista plástico conta que, entre muitas histórias que carrega na bagagem, uma tem um espaço especial em seu coração: “Eu estava passando em um lugar, caiu uma tempestade e eu parei na frente da casa de uma senhora para pedir água. Ela me atendeu, perguntou o que eu estava fazendo e eu respondi que estava viajando de bicicleta. Ela contou que estava acontecendo uma reunião de família e me chamou para entrar. Eu entrei e tenho até foto com a família. Tomei café, comi brownie e até levei uns para a viagem. Depois, segui viagem. E ali, oficialmente, nasceu o pedalentos”.

Todo mundo chega no mesmo lugar

A ideia de apreciar a vista e curtir o trajeto pode parecer contrária à pedaladas mais desafiadoras. Mas, para Nazareth, as duas andam lado a lado. Segundo o idealizador do projeto, a ideia do Pedalentos é que todos sejam capazes de fazer trilhas difíceis ou longas viagens de bicicleta. Tudo isso, claro, respeitando o tempo individual de cada um. Mesmo assim, quando o assunto é encarar grandes pedaladas, Nazareth não esconde que a filosofia do Pedalentos causa estranheza em quem não a conhece. “Muitas vezes, quando eu faço trajetos como a subida do cristo, que é uma ‘boa subida’, eu vou subindo e várias pessoas passam por mim. Tem ciclista de competição, mountain bike, tudo. E eu ali, tranquilo. Paro, brinco com o macaco, tiro uma foto, aprecio a vista. Subo, mas no meu tempo”, brinca Nazareth. “E vai chegar uma hora que eu vou estar ali, no mesmo lugar com toda a galera que passou por mim. E é engraçado que os olhares são de questionamento, como quem diz: “como esse cara chegou?”. E eu cheguei. Ali, naquele momento, todo mundo é igual”.

Uma bicicleta e vontade de pedalar

Junto com a filosofia do Slow Biking, o Pedalentos ainda tem o objetivo de tornar o ciclismo mais acessível. Por isso, Fábio Nazareth separa uma parte do seu tempo para ensinar pessoas a andarem de bicicleta. Isso, segundo ele, a partir da difícil missão de desmistificar a bicicleta como esporte apenas para grandes atletas. “Os iniciantes sempre falam: “eu jamais vou conseguir fazer uma pedalada longa”. Só que, muitas vezes, elas estão olhando aquela ideia de que só consegue isso aquele ciclista esportivo. O Pedalentos desconstrói isso. A gente não compete”, afirma o artista plástico. “No máximo, com a gente mesmo. Mas, nem isso. Não tenho nem marcador de quilometragem e velocidade na minha bicicleta”, conta. De acordo com o idealizador, a ideia do Pedalentos é levar a bicicleta para todas as pessoas, não importa a situação que elas estejam. “E, também desmistificar a ideia de que você precisa de uma bicicleta gigante, toda equipada. A bicicleta que eu viajo nem marcha tem. Para andar de bicicleta, você precisa de uma bicicleta segura e de vontade de fazer aquilo”, completa. 

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