Em teoria, o Mover-se mistura Yoga e Dança. Na prática, as aulas são uma verdadeira aula sobre o movimento intrínseco ao nosso corpo
Nem só Yoga e nem só dança. Não existe nada de “só” no projeto elaborado pela bailarina Camila Ribeiro, criado para provar que dança e Yoga podem andar lado a lado em movimentos livres e genuínos. Apaixonada por dança desde pequena, a bailarina no Theatro de São Paulo escolheu o Yoga para voltar a sentir o prazer genuíno que a dança trazia quando ainda não era profissão. Com as práticas avançadas, escolheu juntar a profissão ao hobby e criou uma série de aulas e workshops que, mais do que juntar os dois movimentos, cria experiências lúdicas e sensoriais para olhar o movimento do próprio corpo com outros olhos.
“Um pouco antes da pandemia, eu percebi que eu estava cansada da estrutura de grandes companhias de dança. Aquilo foi matando um pouco da minha dança genuína, da minha dança de criança”, explica a idealizadora. “No isolamento, eu resgatei aquela dança que estava guardada dentro de mim. A dança de essência, não de trabalho. Tive tempo de estudar um pouco de Yoga e comecei a deixar que as duas técnicas brincassem no meu corpo”, completa. De acordo com a bailarina, os movimentos começaram a chamar a atenção das pessoas, que buscavam entender sobre o que se tratava a prática. Juntando os anos no Yoga e o tempo na pandemia, ela finalmente se sentiu pronta para abrir a primeira turma da aula que apelidou de “Yoga Movement”.
Nos primeiros meses de aula, a ideia era que fosse uma mistura entre o Yoga e a dança. Bastou alguns workshops para que a bailarina percebesse que o projeto vai muito além da junção da junção dos dois movimento: “Inicialmente, era 80% Yoga e 20% dança, mas fui percebendo que a aula era muito mais sobre o movimento. Era uma coisa sobre essência, não tem outro nome. É genuíno. É o que você quiser fazer a partir dos estímulos que eu trago”. A partir de diversas interações com os alunos, a idealizadora do projeto conta que transforma a aula em “um grande ritual de movimento, seja ele qual for”. Brincando com o corpo e com as sensações, a bailarina transforma a experiência do Mover-se em uma atividade lúdica e sensorial que mistura cheiros, sensações, memória e tato.
Muito mais do que a prática esportiva, Camila Ribeiro afirma que a mistura entre yoga e dança é uma experiência sobre o próprio corpo e os incontáveis movimentos que acontecem dentro dele a todo instante. “A aula é sobre não se limitar porque todos nós somos seres ilimitados e, aos poucos, vamos nos limitando por inseguranças, expectativas, cobranças e padrões”, relata. “A gente está em constante movimento. Até quando estamos parados estamos em movimento porque existe uma série de células que estão sempre se movimentando em nosso corpo. E eu acho que quanto mais a gente move, se enxerga e vê a nossa essência, mais o nosso movimento é fluido”, completa a bailarina.
Com a mudança na filosofia do projeto, Camila Ribeiro percebeu que outra coisa precisava mudar: o nome. “Yoga Movement” impunha limites ao projeto, colocava-o dentro de uma caixa que o definia única e exclusivamente como a mistura entre o Yoga e a dança. Por isso, a idealizadora do projeto escolheu trocar por um nome que não coloca limites à aula. O escolhido ainda é segredo, mas promete abraçar a infinidade de possibilidades que o projeto oferece.
No corpo de quem pratica
“Viver é estar em movimento de alguma forma”, escreveu Ulisses Lisboa sobre sua participação em um dos workshops realizados pela bailarina Camila Ribeiro. “Até a inércia é um movimento, assim como o silêncio também fala. Viver também é muito doloroso. Vivenciar é de uma complexidade sem igual, ora faz sentido; é gostoso, faz sorrir e valer a pena toda essa doideira chamada vida. Mas numa outra’ora machuca, esfria, embaça, coça a mente e dói demais”, completou o participante.
Contando um pouco sobre sua experiência no Mover ser, Lisboa relata a mistura de sentimentos causado pela aula. “Embarquei numa experiência tão profunda, cheia de estímulos para se movimentar a partir do yoga e da dança contemporânea. Movimentar-se sem compromisso. Quer dizer, com o compromisso só comigo, com o que eu sinto, com as minhas verdades e farsas, medos e vulnerabilidade”.