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Boxe popular e antifascista: política dentro e fora dos ringues

Breno Macedo e Raphael Piva são sócios em uma academia de boxe e na vida política. Mais do que incentivarem a prática esportiva, os técnicos falam sobre política, fascismo e inclusão.

O objetivo era ter um lugar para lutar Boxe. O resultado, uma academia popular e antifascista. A junção entre Boxe e política aconteceu quando o técnico Breno Macedo, 33, conheceu academias italianas que discutiam, dentro e fora dos ringues, a missão do Boxe no combate ao fascismo. De volta ao Brasil e à sua academia, a MM Boxe, Macedo entendeu que o teor político é inerente ao esporte que praticou durante toda a sua vida. “No começo, era só pelo esporte. Mas, devagar, veio esse caráter social, que não tem como separar do Boxe”, explica o treinador. “É um esporte de periferia, de minorias. É uma coisa que sempre esteve intrínseca ao Boxe e que com o tempo só foi aumentando dentro do nosso projeto”. 

“Quando a gente começou a MM, a gente não tinha uma orientação política definida ou uma filosofia tão determinada quanto a gente tem hoje. A nossa primeira bandeira era o Boxe. A partir de 2015, quando eu conheci outras academia antifascistas, a MM começou a bater nessa tecla com mais força”, explica Macedo. Com três tipos de frentes na academia – a social, a competitiva e a tradicional – a MM Boxe atinge cerca de 70 alunos da periferia e se destaca no esporte de alto rendimento. Mesmo assim, entende o esporte como algo muito além da competição e que o papel da academia vai muito além de apresentar o esporte para crianças e adolescentes. 

“O que a gente fala é que o Boxe é o caminho, não é o fim. Formar um atleta é legal, mas não é o mais importante. O mais importante é ajudar a formação humana da pessoa, formar uma boa pessoa”, comenta o treinador. “O esporte como meio de transformação social é quase inerente ao Boxe. E não só agora ou só no Brasil. Isso acontecia há 150 anos, em vários países. A academia é um espaço em que a gente propõe debates, fala sobre consciência social, de classe e de gênero”.

Expandindo a filosofia do Boxe popular e antifascista, Breno Macedo ainda fundou outra academia com as mesmas vertentes. Agora na capital paulista e com dois outros sócios, o “Boxe Autônomo” é o segundo projeto do treinador. 

Boxe Autônomo

Três amigos, um time de futebol de várzea, a “cena punk” e a vontade de mudar o mundo através do esporte. São esses os denominadores comuns que levaram Breno Macedo, Raphael Piva e Guilherme Miranda a criarem o coletivo Boxe Autônomo. Definidos como uma academia “popular e antifascista”, o projeto apresenta o esporte e oferece aulas de Boxe para crianças e adolescentes da Favela do Moinho, no centro da capital Paulista.  “A gente pensa no esporte como um direito que deveria ser acessível para todas as pessoas. Deveria ser uma prática que qualquer pessoa em qualquer condição deveria ter acesso”, explica o fundador e treinador Raphael Piva. “O coletivo se propõe a respeitar a diversidade e pensar através de uma perspectiva crítica sobre a sociedade. Nosso objetivo é criar um ambiente acolhedor e transmitir valores através do esporte”, completa. 

Atuando desde 2015 em ocupações na capital paulista, o coletivo ganhou destaque no último ano com a ida de um de seus atletas para uma competição internacional. O atleta Kelvy Alecrim Trindade, 16, conhecido como “Menino Alecrim”, foi o representante brasileiro dos 54kg masculino no campeonato  Gymnasiade, na França. Segundo Piva, casos como esse, além de gratificantes, ainda abrem uma nova perspectiva sobre os desafios de mudar a vida dessas crianças através do esporte. “Criar perspectivas de sonhos e trilhar novos caminhos com essas crianças são coisas que nos mostram que a gente está no caminho certo”, explica Piva. “Mas, é um caso ou outro. A gente sabe que o esporte de alto rendimento é excludente, mas é mais um desafio pensar na inclusão dessas pessoas que não necessariamente serão atletas, mas que a partir daqui podem ter um ambiente em que se sintam acolhidos”. 

E mesmo que nem todos os participantes se tornem atletas de alto rendimento, o objetivo do coletivo é dar oportunidade para que eles conheçam o esporte. “Sempre que a gente vai para alguma ocupação, comunidade ou faz outro evento, a gente percebe o quanto um treino, que é uma coisa simples para a gente, proporciona um momento de alegria, evasão e sonho naquelas pessoas. E isso por estar praticando uma coisa que eles nunca tinham ouvido falar ou, se ouviram, era distante da realidade”, relata o treinador. 

Em relação aos próximos objetivos, Piva é enfático: “Nosso próximo passo é crescer”. No esporte de alto rendimento ou no projeto social, a intenção é que o Boxe Autônomo continue mudando a vida das crianças que passam pelo projeto. “A gente quer envolver a criançada mais nova, ir para novas ocupações”, explica Piva. “O objetivo é crescer, estar dentro do universo do Boxe competindo com grandes academias. Recentemente, lançamos um projeto de Apoia-se para que as contas fechem, já que também faz parte da nossa filosofia pagar um salário digno para os profissionais. O Boxe Autônomo não foi um projeto pensado, depois com arrecadação de verba e depois executado. Foi tudo ao mesmo tempo”.

MM Boxe


Em 2003, a ideia era ter um lugar para praticar Boxe. Hoje, 19 anos depois, o objetivo é popularizar o esporte, mudar a vida de crianças e adolescentes da periferia e discutir política. Criada pelo educador físico Breno Macedo, 33, a MM Boxe é uma academia popular e antifascista da cidade de Rio Claro, no interior paulista. Inserido no Boxe desde pequeno, o educador afirma.

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