Skip to content Skip to sidebar Skip to footer

Daniel Botelho: “O lugar mais perigoso é aquele em que achamos que estamos seguros”

Fotojornalista especializado fotografia subaquática,  Daniel Botelho, conversou com o Moveh sobre a adrenalina de mergulhar ao lado dos maiores animais do mundo

“Quando você está mergulhando com uma mamãe baleia e seu um filhote e ele decide que você é um brinquedo, você passa um perrengue bom”, brinca Daniel Botelho quando questionado sobre os perrengues vividos ao longo dos 20 anos de carreira. Em entrevista ao Moveh, o fotojornalista especializado em fotografia subaquática contou algumas das vezes em que viu a morte de perto. Entre fotos de tubarões brancos, baleias e crocodilos do Nilo – seus principais e mais famosos modelos –, Botelho insiste em ressaltar que corre mais perigo quando está fora da água. “Tenho que estar sempre muito ativado, em alerta. O lugar mais perigoso é aquele em que a pessoa acha que está seguro”, afirma. 

Mesmo assim, o fotógrafo não esconde que mergulhar ao lado de animais de algumas (muitas) toneladas requer cuidado, técnica e sempre tem seus perigos. Questionado sobre um episódio marcante na carreira, Botelho escolhe contar sobre um mergulho ao lado de uma família de baleias: “eu fui fotografar uma baleia-franca-austral, que pesa em média 80 toneladas. O filhote pesa mais ou menos 20. Ele vinha para cima de mim achando que eu era uma bolinha, vinha brincar comigo. Mas o maior perigo é o que aconteceu: o filhote conseguiu me colocar entre ele e a mãe. O que acontece com o Daniel no meio de duas baleias? É um mosquito que tu bate na parede”, brinca.

Ainda que reconheça o perigo que corre ao lado desses grandes animais, o fotógrafo afirma que existe uma grande expectativa das pessoas quando o assunto é  passar por algum apuro. “O público gosta de um perigo, de um risco. Quando não tem treta, não dá audiência. Por isso, meu editor só me mandava para bichos grandes”, brinca. Mesmo assim, segundo o fotógrafo, existem outros momentos em que a atenção precisa estar redobrada. “As pessoas esperam sempre o perigo de ‘ah, o tubarão branco tentou me comer’. Mas, ao contrário do esperado, o mais perigoso é o barco. Meus equipamentos são muito pesados, o que fazem a entrada e a saída do barco serem periogosas”, afirma.

Fora da água e longe do barco, os perigos não diminuem. Transitar por diversos países requer um cuidado extra. De acordo com Botelho, é preciso – dentro e fora da água – estar sempre em alerta. “Já tive perrengues de todos os tipos, não só dentro do mar. Já tive gente querendo me dar boa noite cinderela no aeroporto para me sequestrar ou vender meus órgãos, algo assim. Eram países perigosos. Acontece o tempo todo, mesmo sendo uma coisa que as pessoas não pensam muito”, relata o fotógrafo. “O lugar mais perigoso é aquele que as pessoas acham que podem relaxar”, finaliza.

Do amor de infância à profissão

Mesmo ressaltando que grande parte dos perrengues são vividos fora da água, o fotógrafo não esconde que sua maior fonte de adrenalina é mergulhar ao lado de animais considerados perigosos. Em conversa ao Moveh, Daniel Botelho falou sobre uma paixão de infância que, com a chegada da vida adulta, se juntou a um hobby e virou profissão. Desde pequeno, o entusiasta pela natureza carrega um carinho especial por animais que, normalmente, geram pavor nas pessoas. “Nas minhas viagens de criança, em parques de diversão, quando todo mundo queria tirar foto com o ‘bichinho tal’, a minha foto era com o tubarão”, relembra.

Segundo o fotógrafo, a união entre fotografia e natureza (principalmente, o fundo do mar) aconteceu de forma muito espontânea. “Não houve esse pensamento de ‘vamos juntar a farinha e o ovo para fazer um bolo”, brinca Botelho. “Eu tinha uma ânsia de dividir aquelas maravilhas que eu estava vendo no fundo do mar. E aí virou uma bola de neve, tomou conta da minha vida”, afirma o fotógrafo. Durante os mergulhos, a vontade era mostrar para o mundo os detalhes daquele universo que tanto o encantavam. Desse anseio, surgiu a união das paixões: “quando eu via aquele peixe lindo, colorido, majestoso, eu ficava deslumbrado. Me dava vontade de mostrar aquilo para os outros. Nada ambicioso. Era uma coisa de ‘quero que minha mãe veja, que minha avó conheça. Não é possível, o meu vizinho tem que ver esse peixe’. E aí eu comecei a fotografar”, afirma. 

Tubarões sorridentes

Das aventuras vividas ao longo dos 20 anos de carreira, muitas ocupam um lugar especial no coração do fotógrafo. Sempre com a missão de desmistificar a ideia de que tubarões são animais perigosos, Botelho tem uma grande  participação na vida de muitas crianças – mesmo que quase ninguém saiba disso. Entre os trabalhos que mais sente orgulho, a participação na produção do filme “Procurando Nemo” é destaque: “a produção do filme me procurou porque eles estavam fazendo uma produção sobre o fundo do mar e precisavam de um embasamento científico”, conta.  “Eles não podiam colocar um peixe que é amarelo em vermelho, ou um que tem quatro listras com três. Então, eles me chamaram porque ouviram que eu era o ‘fotógrafo que tem os tubarões sorridentes’ e me convidaram para fazer uma expedição, um mergulho fora da gaiola, para achar o Bruce original”, conta Botelho.

Muito mais do que uma busca por um tubarão branco, a participação de Botelho no filme foi uma tentativa de mudar a cabeça das crianças. “Minha madrinha de 70 anos diz que não adianta mais, que ela tem pavor de tubarão desde que assistiu ao filme “Tubarão” (1975), um filme que eu acho que trouxe uma reputação um pouco injusta para os tubarões. Para os mais velhos, eu perdi um pouco a esperança”, brinca o fotógrafo.  “Entre você ter uma simpatia com o animal até você desejar que um tubarão bom é um tubarão morto, existe um espaço muito grande. Então, só de tirar as pessoas dessa posição e trazer esse tubarão de outra forma, sorridente, para mim já foi uma coisa muito importante”, finaliza. 

“Algumas vezes, já cheguei no Brasil e fui direto para o hospital”, relata Daniel Botelho ao ser questionado sobre os maiores perrengues que passou ao longo dos seus 20 anos de carreira. “Em Isla de las Mujeres, por exemplo, fiquei à base de anti inflamatório dizendo: “não quero ir ao hospital aqui. Quero chegar em casa primeiro, depois vou para o hospital”. Cheguei e fui direto”, completa. Especializado em fotografia subaquática, Botelho é conhecido pelos cliques passíveis de tirar o fôlego de qualquer pessoa. Em seu portfólio, o carioca coleciona fotos de incontáveis espécies dos animais mais temidos do mundo: entre tartarugas e recifes de corais, quem ganha destaque, mesmo, são os tubarões e baleias.

© 2024 Moveh. Todos os direitos reservados.