Dança, fotografia e movimento se juntam no projeto criado por Daniele Calicchio e Kassius Trindade.
Fotografar o movimento parece fácil à medida que você rola a página do Dance In Pause no Instagram. O que se define como “mais do que um projeto fotográfico, um movimento”, deixa quem está do outro lado da tela intrigado com a forma que cada movimento é fotografado. O mais impressionante, talvez, seja que algumas das fotografias – tão chocantes quanto às originais – foram feitas por chamada de vídeo. Mão pra lá, pé pra cá e cabeça para outro lado. Calças, saias, blusas e outros tecidos se confundem à medida que exercem tanto movimento quanto o corpo de quem é fotografado. A sensação é ambígua: estar diante da fotografia do movimento e, ao mesmo tempo, admirar um instante. Não qualquer instante: aquele exato em que o corpo se mantém parado – e, ao mesmo tempo, em constante movimento.
Criado em 2015 pela diretora artística Daniele Calicchio, o Dance In Pause surgiu da experimentação, do teste e da tentativa de entender o próprio corpo. Com mais de 84 ensaios fotográficos registrados no Instagram, o projeto conta com a participação do fotógrafo Kassius Trindade e foi pensado, segundo os idealizadores, com o intuito de “produzir beleza em um lugar de abstração e encantamento”. Composto por cliques nada óbvios do corpo em movimento, o Dance In Pause é um verdadeiro convite para acessar nossos desejos, anseios e memória corporal. Da roupa ao corpo de quem é fotografado, a intenção dos profissionais envolvidos no projeto é fugir dos clichês e criar uma experiência quase sinestésica com as fotografias. “A roupa às vezes toma forma de um animal e aí, com as pernas do bailarino, aquilo se torna uma forma muito doida, um bicho, uma coisa ancestral”, brinca Calicchio. “O projeto é sobre produzir beleza em momentos de escape. Porque não só o resultado, mas a feitura de uma sessão de fotos com uma pessoa improvisando é muito poderosa”, completa.
Como fotografar em isolamento?
Durante a pandemia, Daniela Calicchio e Kassius Trindade precisaram se reinventar para continuar dando vida ao Dance In Pause. Impossibilitados de se reunirem com as modelos, a ideia foi criar uma experiência ainda mais intimista. A proposta era que essas mulheres fossem fotografadas em seu próprio quarto, via chamada de vídeo, para que estabelecessem uma nova relação com o próprio corpo e com o espaço de casa. “Chamamos de ‘Dance In Pause na Quarentena’ porque trabalhamos com quarenta mulheres, fotografando-as em seus quartos”, relata a diretora. “Foi uma coisa muito impressionante porque foi muito empoderador, energético e curador. Eu dirigia pessoas online, ligava para pessoas que nunca tinha ouvido falar de nós, mas que acabavam topando por verem o resultado do trabalho com outras mulheres”.
Na visão de Calicchio, fotografar mulheres em seus próprios quartos criou uma intimidade diferente com as modelos. “Foi muito emocionante. Algumas choravam, outras gritavam”, revela. “Foi uma libertação naquele quarto, que durante a pandemia estava sendo o espaço que ficavam mais horas. E a gente acabou ajudando as pessoas a ressignificarem aquele lugar como um lugar onde também se pode escapar, onde se pode ter sonhos. E tudo isso a partir do corpo, porque o corpo é esse portal para acessar lugares sombrios. O corpo é sempre uma saída muito bonita para todas as pessoas em todos os tempos da humanidade. O corpo é o lugar para escapar de nós mesmos”.