Ocupação de espaços públicos, consciência dos direitos e muito basquete são só algumas das coisas que On Fire promove nas comunidades da cidade de Diadema, na grande São Paulo
De um lado, uma quadra velha, vazia e sem estrutura. Do outro, jovens que querem praticar esporte. Não precisa pensar muito para entender que essa conta não fecha e que todos os lados envolvidos saem perdendo. A solução encontrada por quem vivia o problema de perto foi, literalmente, colocar a mão na massa. Criada em 2020, a On Fire surgiu da vontade de se movimentar durante a pandemia a ocupar espaços públicos de direito. Inicialmente pensada apenas como uma reunião de amigos para um “racha”, hoje a iniciativa já conta com o apoio da prefeitura de Diadema e mobiliza cerca de 80 pessoas para eventos que revitalizam as quadras, reformam os aros e promovem rachas de basquete.
“A On Fire nasceu de uma carência que nós, jogadores de basquete, tivemos na cidade”, explica um dos fundadores, o advogado Fernando Andrade, 30. “A partir do momento que entrou uma liderança para organizar o diálogo entre o poder público e a população, tem sido possível realizar essas revitalizações”, completa. Muito mais do que fazer a ponte entre a prefeitura e a população, a On Fire mobiliza os próprios usuários da quadra para reformá-las. No fim da equação, segundo Fernando, todo mundo sai ganhando. “A On Fire funciona assim: a empresa nos doa as tintas que estão próximas ao vencimento. Então, ao invés de ter o custo de descarte do recipiente e da tinta, elas nos doam. A Secretaria de Meio Ambiente faz a ponte e promove a melhoria no esporte. Não tem funcionário e nem dinheiro público, são voluntários que usam a quadra que fazem a reforma”, explica.
De acordo com o fundador, a parte de mobilizar os próprios usuários é fator essencial para que o trabalho valha a pena. “A gente entende que, a partir do momento que ele conhece o processo de recuperação, ele se apropria do espaço. Ele se sente dono daquilo, foi ele que pintou, que colocou o aro. E, se ele ver alguém jogando lixo no chão ou se pendurando no aro desnecessariamente, ele vai se sentir diretamente afetado. Isso aumenta o zelo com o espaço”, explica. Fora isso, para que a população crie vínculo com o espaço, a On Fire promove aulas e eventos que, cada vez mais, aumentam a sensação de pertencimento ao espaço público.
A “molecada”
Reformar as quadras e ocupar espaços públicos é o primeiro passo que a On Fire dá junto à cidade de Diadema. O segundo, de acordo com Fernando, é engajar a população. Em menos de dois anos de projeto, campeonatos e eventos já mobilizam mais de 500 pessoas e chamam atenção de emissoras de TV e prefeituras de outras cidades. “Diadema tem uma história forte com o basquete e sempre teve esse esporte forte mesmo sem apoio das autoridades”, explica Fernando. “A gente brinca que a On Fire tá fazendo história porque o basquete sempre foi o “patinho feio” da cidade. Hoje, ele é a galinha dos ovos de ouro, um projeto que leva a cidade para muitos lugares”, brinca.
“O maior impacto que a gente vê é na “molecada” que tá conhecendo o projeto agora. Tem muita quadra que a gente vai que as pessoas não são do esporte, que estão começando a se interessar agora. Justamente por isso, estamos começando a dar aulas para crianças”, relata o advogado. “E, do outro lado, fazer barulho para o poder público, para eles verem que tem gente que se interessa. A prefeitura não tem visão até que alguém mostre. E o que a On Fire tem feito é mostrar o poder do basquete”, completa.