Fernando, Jamille, Laura e André moram a bordo de um catamarã de impressionantes 150m² e fazem do barco a fonte de renda da família.
Morar a bordo nem sempre foi um sonho para Fernando e Jamile. A vontade era morar perto do mar e levar uma vida mais tranquila do que a que levavam na capital paulista. Por isso, a meta era se aposentar, abrir uma pousada em Ilhabela e, finalmente, viver a vida dos sonhos. Com o tempo e com a aproximação da vida a bordo, os planos mudaram: ainda com o apartamento na capital, decidiram investir em uma lancha. Foi amor e descoberta à primeira vista: Fernando e Jamille perceberam que um barco poderia ser uma casa e se apaixonaram pela vida no mar. Depois de muita conversa, dois filhos e desapego da vida em terra, decidiram, finalmente, embarcar no Guina, um catamarã de impressionantes 150m² que leva o nome do avô de Fernando.
Enquanto houver tempo e saúde
“O que a gente não pensava, quando morava numa cidade grande como São Paulo, era que um barco poderia ser uma casa”, explica Jamile. “Quando a gente comprou a lancha, ela virou nossa casa de praia. Não tinha nem banheiro, era super pequena”. Mesmo assim, o casal não deixava de estar no mar todo final de semana. Ainda sem filhos e seguindo com o plano de se mudar apenas quando estivessem aposentados, o casal foi se aproximando cada vez mais da vida a bordo. Com o tempo, a vida na capital perdeu o sentido: “vivíamos cinco dias na semana pensando no fim de semana que estaríamos no mar”.
Já completamente apaixonados pela ideia de morar no mar, o casal reviu os planos depois de uma conversa com um casal de amigos: “Nós os encontramos, falamos da ideia de morar a bordo depois que a gente se aposentase e eles perguntaram: “mas por que só depois que se aposentar? E se essa hora não chegar ou você não tiver saúde?’”. O questionamento mexeu tanto com o casal que poucos meses depois Fernando e Jamille decidiram: morariam a bordo assim que possível. Em 2010, a decisão foi tomada, mas a mudança só aconteceu depois de 7 anos e três “encomendas”: André (10), Laura (8) e um catamarã que abrigasse toda a família.
A não-terceirização do cuidado
Com André e Laura um pouco mais velhos – 5 e 3 anos, respectivamente –, Fernando e Jamille decidiram embarcar no Guina. E se morar a bordo com duas crianças parece loucura para muita gente, para o casal foi a única opção. Eles sabiam que queria ter filhos e, mais ainda, gostavam da ideia de criá-los a bordo pelo fato de estarem sempre presentes na vida das crianças. “A gente trabalhava tanto em São Paulo e ter filhos sempre foi uma questão. Eu iria sair antes deles acordarem ou, no máximo, levá-los para a escola. Quando chegasse, eles já deveriam estar dormindo”, explica Fernando. “Eu sempre via que os filhos não eram criados pelos pais, isso era terceirizado, seja por escola ou por uma babá. E a mudança para o barco mudou isso: a gente quis que eles participassem dessa aventura com a gente”.
Entre homeschooling, hóspedes do Guina e uma rotina em que estão 24 horas por dia lado a lado, André e Laura mal sentem falta da vida em terra. André, o mais velho, gosta do fato de que a casa pode sempre sair do lugar. “Eu gosto, acho diferente. A nossa casa pode ir para vários lugares. Então, se tem um vizinho chato e barulhento, a gente se muda”, explica. Já Laura, que sequer se lembra como é viver em terra, diz que sente falta dos avós e de ir à piscina. “Só o mar não é suficiente para ela”, brinca Jamille.
E por que um Catamarã?
Em comparação com as outras famílias dessa série de reportagens, a família Guina tem uma grande diferença: o tamanho do barco. E isso, claro, foi um dos questionamentos que o Moveh fez para Fernando e Jamille. Os impressionantes 150m² do Guina são compostos de quatro quartos, uma bela sala, alguns corredores e uma cozinha equipada com um fogão e uma geladeira de casas comuns. E a explicação para todo esse tamanho do Guina é simples: o conforto e o privilégio de poder estar sempre olhando para o mar.
“Quando a gente pensou em morar a bordo, a gente morava em um duplex e eu falei que tinham coisas que eu não abriria mão”, explica Jamille. “São coisas que faziam parte do meu conforto, como a máquina de lavar, um fogão com algumas bocas, uma geladeira boa. Além do espaço, teve outra coisa: nos monocascos, a cozinha fica escondida lá embaixo. Então, eu ia morar no mar e não ia ver o mar enquanto cozinhava, por exemplo. Eu não queria isso. Hoje, eu cozinho olhando para o mar”. Para Fernando, a questão vai além: por causa do espaço, o Guina ainda é usado como fonte de renda da família. Os quartos que sobram são alugados para hóspedes que passam alguns dias experimentando a vida a bordo. Fora o dinheiro que entra, segundo o casal, alugar espaços no barco faz com que a família toda trabalhe junto, estreitando ainda mais os laços e criando uma noção de responsabilidade nas crianças.